quarta-feira

Urublues o poema

Reza a lenda que o nome da banda foi tirado de um poema homônimo de Adelino Pires, que acabou musicado por Kawbi, Vito e Rô. Entre muitas besteiras que já foram ditas a respeito disto, a melhor é o que foi publicado num dos dois jornais da época, por ocasião do lançamento do primeiro cd, esclarecendo para o público perplexo o que, afinal, aquele trocadilho significava: o belo poema de Pires "descrevia a relação do urubu com o blues"... O amável leitor que tire suas próprias conclusões a respeito à vista do mesmo poema, que vai transcrito abaixo:


"Numa noite chuvosa
Eu tento encontrar
Algum lugar perdido
Algum porto seguro
Para a solidão.
Fugindo das luzes
Procurando a noite
Ainda levo comigo
A velha guitarra
E toco este blues.
O blues é o frio que sentem
Os homens nus.
É o gosto dos restos que sobram
Para os urubus.
Um operário espremido no ônibus, o pus
Das feridas que a vida cuida
De abrir em nós.
É a dose mais forte
Dos bêbados
É o sopro do vento
Que varre os becos
Esse é o blues.
Choro minhas loucuras
Na mesa de um bar
Tento e não desisto
Da vontade de pirar
Trago em mim a dor
De um canto negro, o blues
Prá saber que as coisas
São mesmo assim".

Um pouco social, um pouco etílico. A primeira vertente foi abandonada, a segunda bastante explorada, e ultimamente até se cunhou pela crítica musical uma expressão que poderia descrever uma das mais longas fases da banda: etílico-mulherengo. Paralelamente, muito instrumental - o primeiro cd já o sinalizava.